Como elaborar Inventários de GEE: o passo a passo

como elaborar inventários de GEE

Realizar uma atividade pela primeira vez é sempre uma tarefa difícil, principalmente atividades técnicas como elaborar inventários de GEE. Esta poderosa ferramenta de gestão ambiental  permite quantificar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), identificando oportunidades para mitigação.

Se você não sabe nada sobre o assunto, pode se interessar por este post que explica o que é um Inventário de Gases de Efeito Estufa. O eBook Noções Básicas de Gestão das Mudanças Climáticas para Empresas também apresenta os conceitos básicos e a importância do Inventário de GEE para as empresas.

Apresentaremos aqui o passo a passo para a elaboração de um Inventário de GEE. Se você deseja aprender sobre o assunto ou quer dicas sobre quantificação de emissões, continue acompanhando!

Como elaborar Inventários de GEE: conheça o passo a passo

As etapas metodológicas utilizadas para a elaboração de um Inventário de Gases de Efeito Estufa são apresentadas no fluxograma a seguir:

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Este post apresentará cada uma das 7 (sete) etapas da elaboração de um inventário de GEE. Também serão indicados outros materiais em que as atividades específicas estão melhor detalhadas, como, por exemplo, a identificação de fontes de GEE. Esses materiais também fornecerão dicas práticas para profissionais que já desenvolvem Inventários de Gases de Efeito Estufa. Se você deseja se aprofundar no assunto, a primeira leitura obrigatória é o Guia Metodológico do Programa Brasileiro do GHG Protocol, que pode ser acessado aqui.

1. Definição de Abrangência

A primeira etapa é a Definição de Abrangência do Inventário de GEE, também chamado de Definição de Fronteiras. Seguindo os requisitos da normas aplicáveis, duas fronteiras precisam ser estabelecidas. A Fronteira Organizacional define os limites da companhia, incluindo operações e subsidiárias que compõem o negócio. Veja o exemplo a seguir: a Fronteira Organizacional é composta pela Empresa Matriz e suas subsidiárias, as Empresas “A”, “B”, “C” e “D”.

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A Fronteira Operacional, como indica o nome, diz respeito às operações nas quais se encontram as fontes e sumidouros de GEE. Novamente, se olharmos para o exemplo anterior, a Fronteira Operacional da Empresa A é composta pelas frotas de caminhões e de carros. Uma boa definição das Fronteiras Operacionais é fundamental para a qualidade do inventário, por envolver a definição das emissões por tipo: Emissões Diretas e Indiretas.

Emissões Diretas, ou de Escopo 1, são aquelas que ocorrem em fontes cuja propriedade ou controle são da empresa inventariante. Por sua vez, as Emissões Indiretas dizem respeito a emissões por fontes de propriedade ou controladas por terceiros. Elas podem ser Emissões Indiretas por Consumo de Energia, ou de Escopo 2, quando dizem respeito às emissões oriundas do consumo de energia elétrica ou térmica adquirida. Podem ainda ser Emissões Indiretas por Outras Fontes, ou de Escopo 3, quando dizem respeito às demais fontes de GEE.

Para saber mais sobre fontes de emissão de GEE, vale dar uma olhada neste post que detalha a classificação das fontes e sumidouros, além de apresentar dicas para identificação das fontes de GEE típicas que compõem um inventário.

 2. Definição do período de referência e Ano-Base

Com as fronteiras organizacional e operacional definidas é preciso estabelecer o período de referência, também denominado de Fronteira Temporal. O período de referência nada mais é do que o recorte temporal da quantificação de emissões. Normalmente, Inventários de GEE têm recorte anual, com período de referencia entre 1º de Janeiro à 31 de Dezembro do ano de reporte. Algumas empresas possuem períodos de monitoramento mais curto, voltados para a gestão de metas de emissões. Entretanto, mesmo nesses casos, a comunicação dos resultados do Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) tende a acontecer uma vez por ano.

Já o Ano-Base diz respeito ao Inventário utilizado como referência para acompanhamento da evolução das emissões. Deve-se estabelecer um Ano-Base histórico para emissões e remoções de GEE por motivos de comparabilidade. Sem um Inventário de Ano-Base é impossível avaliar a performance de emissões de uma empresa. Normalmente, utiliza-se o primeiro Inventário de GEE como Ano-Base, entretanto, pode-se retroagir, calculando emissões históricas, caso haja informações suficientes para fazê-lo.

3. Identificação ou Revalidação de Fontes e Sumidouros de GEE

Uma vez definidas as fronteiras do Inventário de GEE e o período de reporte, é necessário identificar ou revalidar as fontes e sumidouros de GEE. Fontes de Emissão de GEE são unidades físicas ou processos que liberam algum gás de efeito estufa (GEE) para a atmosfera. Já um Sumidouro de GEE é uma unidade física ou processo que remove um gás de efeito estufa da atmosfera.

De maneira prática, é importante que as fontes ou sumidouros sejam identificadas no primeiro inventário e revalidadas a cada ano. Esta atividade implica em visitas de campo e avaliações dos fluxos de processos produtivos. Para auxiliar a identificação de fontes preparamos este post que lista algumas fontes típicas de emissão de GEE. De maneira geral, o Dióxido de Carbono (CO2) é emitido em processos de combustão, como motores e caldeiras. O Metano (CH4) é principalmente originado em processos biológicos, como o tratamento de efluentes líquidos, mas também é emitido em menores volumes, por exemplo, na queima de combustíveis fósseis. Já o Óxido Nitroso (N2O) pode ser emitido em processos industriais específicos, como na produção de ácido adípico, e em processos biológicos de nitrificação e denitrificação.

Sempre que uma fonte de GEE deixar de existir, o Inventário deve refletir esta situação. Por exemplo, uma frota de veículos tende a ser bastante dinâmica, com substituições frequentes e vendas de carros antigos. A revalidação de fontes de GEE também deve incluir a avaliação da propriedade ou controle da empresa sob a fonte, uma vez que pode haver reclassificação entre Emissões Diretas, ou de Escopo 1, e Emissões Indiretas, ou de Escopo 3. Este é um caso clássico observado nos processos de terceirização, nos quais as companhias vendem ativos e passam a contratar o serviço de terceiros.

4. Coleta de Informações

Com as fontes e sumidouros de GEE identificados e registrados, passa-se a coletar as informações referentes a eles. Esta atividade contempla a identificação dos registros gerenciais nas empresas, a coleta das informações e compilação dos dados. Bastante demandante em termos de tempo, a coleta de informações normalmente envolve múltiplas áreas da empresa e pode ter origem em registros reconhecidamente fidedignos, como dados fiscais, ou em registros mais incertos, como relatórios gerenciais da operação e planilhas de controle de abastecimento de equipamentos preenchidas por operadores, por exemplo.

Para que a manutenção do inventário demande o menor esforço possível é imprescindível que o sistema de registro de dados seja robusto e flexível. Neste post discutimos um pouco sobre os pontos fortes e fracos dos métodos mais comuns para coleta e registro de dados. Destaca-se, ainda, que o rastreamento dos dados é fundamental para a auditoria dos inventários. Neste caso, a coleta de dados deve ser acompanhada do controle da origem dos dados e das evidências de valores.

5. Cálculo de Emissões e Remoções

Com as fontes de GEE identificadas, e com os respectivos dados coletados, é hora de colocar a mão na massa para executar as quantificações. Para esta atividade o grande manual é o IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories. Nele, as emissões são classificadas em 4 Grupos: Energia, Processos Industriais e Uso de Produto (IPPU), Agricultura, Florestas e Outros Uso da Terra (LULUCF) e Resíduos. As remoções só são consideradas no capítulo de LULUCF, pela remoção biogênica de CO2 por florestas. Em processos industriais complexos pode ser necessário utilizar balanços de massa e energia para o cálculo de emissões.

Genericamente, os cálculos de emissão são realizados pela multiplicação dos dados das fontes de GEE, como, por exemplo, o consumo de combustíveis, por um fator de emissão. Os Fatores de Emissão podem ser derivados da literatura, como o próprio IPCC, a US EPA, o DEFRA ou a CETESB, ou podem ser desenvolvidos para a situação da empresa, considerando especificidades e tecnologias empregadas.

Por fim, destaca-se que existem ferramentas on-line para o cálculo de emissões, incluindo uma ferramenta em Microsoft Excel disponibilizada pelo Programa Brasileiro do GHG Protocol. Atualmente, os softwares de gestão de emissão vêm ganhando espaço por oferecer inúmeras vantagens em comparação ao desenvolvimento manual de Inventários de GEE.

6. Cálculo de Incertezas

Esta etapa tende a ser negligenciada pela maioria dos profissionais da área apesar da sua importância. As incertezas de um Inventário de GEE podem ter origem tanto nos dados das fontes quanto nos fatores de emissão. No caso dos dados de entrada, incertezas ocorrem porque os equipamentos de medição possuem erros ou porque o recurso humano que registrou a informação é sujeito a erros. Neste caso, pode-se registrar as variações previstas nas especificações de equipamentos de medição e considerá-las nos resultados dos inventários. No caso de fatores de emissão, é boa prática registrar os limites e erros disponibilizados pela literatura e também refleti-los nos resultados dos inventários.

São duas as fontes de incertezas de um Inventário de GEE. A Precisão diz respeito ao grau de variabilidade, ou desvio padrão, dos resultados. Por sua vez, a Acuidade diz respeito ao grau de veracidade dos resultados, ou seja, quão próximo o resultado é do valor aceitável. A figura abaixo exemplifica o conceito de precisão e acuidade.

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As incertezas devem ser reduzidas até o limite da praticidade. Para o cálculo de incertezas recomenda-se a utilização do modelo de propagação de incertezas (IPCC, 2006).

7. Apresentação de Resultados

Com os cálculos concluídos é hora de apresentar os resultados. A estrutura dos relatórios de Inventários de GEE são apresentadas pelo GHG Protocol e pela ISO 14.064. De maneira geral, os resultados são organizados em emissões por Escopo, emissões por Atividade, emissões por Categoria e emissões por Tipo de GEE. É boa prática apresentar os resultados também por Fronteira Operacional, melhor detalhando as emissões em cada fronteira.

No Brasil, o Programa do GHG Protocol possui um Registro Público de Emissões que permite que empresas publiquem seus inventários. Outras iniciativas voluntárias, como o CDP e o ICO2 da BM&F BOVESPA, também permitem a transparência por meio do reporte das emissões de GEE das companhias de capital aberto.

Ainda tem dúvidas ou quer compartilhar a sua experiência na elaboração de Inventários de GEE? Deixe sua pergunta ou compartilhe sua experiência nos comentários!

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