Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD): transparência e vantagens

TCFD

A mudança do clima sinaliza um mundo em transformação. Para que um ambiente seguro e estável seja proporcionado às economias globais, é necessário traçar novas formas de atuação. Hoje, um dos mais relevantes tipos de risco para as organizações é o risco climático, porém esse fator ainda é pouco compreendido pelo mercado. Em 2015, o valor total de ativos em risco em todo o mundo, em decorrência das mudanças climáticas, foi estimado entre 4,2 e 43 trilhões de dólares até o fim do século (The Economist Intelligence Unit, 2015).

Assim, investidores precisam saber como as suas finanças serão afetadas nos próximos anos. Atenta a esse fato, a Financial Stability Board criou em 2015 uma força-tarefa, a Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), para desenvolver recomendações que facilitassem a divulgação de informações financeiras relacionadas ao clima por companhias de todo o mundo. Até agosto de 2018, mais de 390 companhias já declararam seu apoio às diretrizes da TCFD, indicando a tendência de uso dessa ferramenta nos próximos anos.

A importância da transparência dos riscos financeiros

O risco climático pode ser classificado em “riscos de transição para uma economia de baixo carbono” e “riscos físicos”. Cada qual afetará o desenvolvimento global de forma diferenciada, mas todos trarão riscos financeiros associados. Entre esses, podemos citar o aumento de custos de produção, a preferência do consumidor por produtos menos carbono intensivos e o aumento da competitividade devido à adoção de alternativas tecnológicas nos processos produtivos.

Saiba mais sobre risco climático no nosso post Risco climático: uma chamada para a geração de valor.    

No cenário de aumento da temperatura do planeta, os agentes do setor financeiro ficarão mais criteriosos na escolha de onde aplicar seu capital, uma vez que precisam ter a segurança do retorno de seus investimentos. Por isso, é necessário que investidores, credores e seguradoras saibam como as corporações estão se preparando para lidar com esse cenário e se serão capazes de continuar gerando valor a longo prazo.

Então, uma divulgação clara de riscos financeiros é essencial para fornecer uma melhor base para a tomada de decisão dos donos de capital. Como disse Michael Bloomberg, presidente da TCFD, a transparência deixa os mercados mais eficientes e as economias mais estáveis e resilientes. Com acesso a informações precisas, empresas terão maior credibilidade junto a investidores, que por sua vez poderão fazer uma alocação de capital mais eficiente aos negócios.

Leia mais sobre Cenários de Risco Climático neste artigo.

As recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures

A TCFD é composta por 32 membros, que por sua vez representam bancos, seguradoras, acionários e consultorias de diversos países pertencentes ao G20, grupo que congrega chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. A escolha dos membros se deu de forma a incluir experts tanto do setor financeiro quanto não-financeiro, assim como elaboradores e usuários de relatórios financeiros. Em junho de 2017, a TCFD lançou seu relatório final de recomendações. Essas foram elencadas em quatro áreas temáticas: governança, estratégia, gerenciamento de risco e métricas e objetivos. A força-tarefa recomenda que a publicação de riscos monetários relativos ao clima seja incluída no principal relatório financeiro da empresa, de forma a dar visibilidade às orientações sugeridas nas quatro áreas.

Para a área de governança, a TCFD recomenda relatar as funções do conselho diretor no gerenciamento de riscos e oportunidades relacionadas às mudanças climáticas. Tais riscos devem ser descritos, bem como a forma em que impactam a estratégia das organizações a curto, médio e longo prazo. Nesse aspecto, é importante mostrar a resiliência do negócio diante de diferentes cenários de aumento da temperatura global. Na área de gerenciamento de risco, as organizações devem descrever seus processos de identificação e manejo de riscos climáticos, bem como a forma com que esses riscos estão integrados ao gerenciamento de risco geral da empresa. Recomenda-se também que as métricas e os objetivos relacionados ao clima sejam mostrados nos relatórios e que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sejam descritas em escopos 1, 2 e 3. Além disso, divulgar riscos e oportunidades associados às emissões e outras métricas é relevante.

As organizações estão preparadas para incorporar as diretrizes da TCFD?

Certamente haverá  muito trabalho a ser feito nos próximos anos para que as organizações se adaptem às novas demandas. Na Europa já existem regulações, como a EU Non-Financial Reporting Directive e o Artigo 173 da Lei de Transição Energética da França, a favor da abertura de informações quanto ao risco financeiro associado ao clima, o que vem impulsionando as empresas na divulgação. Assim, os países europeus têm maior base para adesão às diretrizes da TCFD. Companhias na França, Reino Unido e Alemanha são atualmente as mais preparadas, como mostra o relatório elaborado pelo Carbon Disclosure Project (CDP) em conjunto com o Climate Disclosure Standards Board (CDSB), baseado nas respostas dadas ao CDP por empresas de diversos países, incluindo o Brasil, em 2017.

Nesse estudo, verificou-se que em 82% das companhias analisadas o conselho diretor já tem responsabilidades no gerenciamento de riscos e oportunidades relacionadas ao clima. No entanto, os incentivos para trabalhar no tema concentram-se nos departamentos de sustentabilidade, o que contraria o princípio da TCFD de que suas recomendações devem ser implementadas de forma ampla, abrangendo também as equipes de gerenciamento de riscos e finanças.

Além disso, em sua maioria, as empresas ainda consideram apenas riscos de curto prazo, sendo que apenas um terço daquelas analisadas pelo CDP em 2017 consideraram riscos e oportunidades do clima para um horizonte de tempo superior a seis anos. O uso da precificação interna de carbono ainda é baixo, sendo aplicado em apenas 21% do total de organizações analisadas pelo CDP. No Brasil, somente 26% das empresas que responderam ao CDP 2017 utilizaram a ferramenta e 28% relataram estar se preparando para utilizá-la nos próximos dois anos. Assim, as empresas não estão agindo de forma estratégica para aproveitar as oportunidades trazidas pela mudança do clima, portanto, é hora de colocar o risco financeiro como prioridade no planejamento das corporações.

As recomendações da TCFD vêm ganhando cada vez mais adeptos, os quais já percebem a demanda como uma vantagem competitiva. Quinze empresas brasileiras, dos setores industrial, energético e financeiro, já mostraram apoio às diretrizes e se comprometeram a adotá-las em seus relatórios financeiros nos próximos anos. Seguindo a tendência europeia, é provável que, em breve, os investidores da economia brasileira passem a exigir a publicação de dados financeiros alinhados às recomendações da TCFD. Como no Brasil ainda não há regulamentação que exija a divulgação de risco climático pelas empresas, e a sua relação com o risco financeiro ainda não é conhecida por muitas companhias, há muito espaço para que o país aplique as diretrizes da força-tarefa.

Assim, a transparência de riscos financeiros é necessária para que as empresas assegurem o recebimento de investimentos nos próximos anos. Aderir às recomendações da TCFD, além de ser um passo para ganhar maior credibilidade junto aos investidores, é uma oportunidade para que as organizações identifiquem obstáculos à continuidade de seu desenvolvimento num cenário de consequências do aumento da temperatura média global.

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