Estudo de Avaliação de Riscos e Vulnerabilidade Climática em São Bernardo do Campo: Workshop com Especialistas

Workshop São Bernardo do Campo

Desde o final de 2019, a WayCarbon, em parceria com o ICLEI (Local Governments for Sustainability), vem elaborando o ‘Estudo de Avaliação de Riscos e Vulnerabilidade Climática de São Bernardo do Campo’, projeto financiado pela CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina. Com objetivo de compartilhar, debater e validar os resultados obtidos pelo trabalho, foi realizado o evento: ‘Workshop com Especialistas’, no dia 13 de maio, reunindo as equipes das consultorias contratadas, os principais atores do setor público da cidade de São Bernardo do Campo e da academia, além dos convidados especiais Carlos Nobre e Sergio Margulis, duas grandes referências da área climática no Brasil.

O evento contou com a participação de mais de 70 pessoas e foi um passo essencial para o desenvolvimento do Estudo. Acompanhe abaixo algumas reflexões obtidas a partir da realização do encontro.

Estudo de risco climático para municípios: caso de São Bernardo do Campo

São Bernardo do Campo é mais um dos municípios que vêm assumindo protagonismo na discussão da questão climática no Brasil e em breve contará com um estudo técnico profundo, qualificado e completo para subsidiar suas políticas climáticas – hoje e no futuro.

Na ocasião do evento, a WayCarbon apresentou os resultados da análise de Risco Climático desenvolvida para a cidade de São Bernardo do Campo, a partir da plataforma MOVE®.

Com base na abordagem proposta pelo IPCC AR5 (Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas), a ferramenta de modelagem computacional da WayCarbon combinou os elementos de exposição e vulnerabilidade da população com projeções futuras de chuva e temperatura de cenários climáticos para gerar mapas e análises espacializadas sobre a incidência de cada risco climático no território de São Bernardo.

Desta forma, foi possível identificar os bairros mais afetados por cada ameaça (ondas de calor, inundações, proliferação de vetores e deslizamentos), no presente e nos cenários futuros de 2030 e 2050. Na análise de extremos climáticos, por exemplo, foi possível mensurar o aumento da temperatura média da cidade até 2050, assim como a variação de indicadores de precipitação.

Construção da estratégia de adaptação para municípios

A partir dos resultados da projeção de riscos climáticos, foi elaborada uma estratégia de adaptação territorial aos efeitos da mudança do clima, que, por sua vez, possui diversas etapas. Para exemplificar, foi apresentado no workshop o processo de construção das medidas de adaptação, que vão desde o levantamento de ações existentes ou implementadas, realização de consultas públicas e ao corpo técnico da prefeitura, e priorização de acordo com critérios definidos coletivamente, até o detalhamento das medidas finais.

Com o suporte de quase 180 respostas de questionários eletrônicos e a participação de mais de 40 pessoas nas reuniões realizadas, foi possível desenhar medidas de adaptação aos riscos climáticos analisados. Muitas delas, inclusive, contribuem para a adaptação a mais de um desses riscos.

As medidas abordam os temas importantes e fundamentais para a cidade, como recursos hídricos, resíduos sólidos, áreas verdes, agricultura urbana, permeabilidade do solo, captação de águas pluviais, soluções baseadas na natureza e defesa civil. Devido à complexidade das medidas, o sucesso da implementação depende fortemente da colaboração intersecretarial do município.

Destaca-se também a importância de medidas transversais, como a inclusão da lente climática na revisão do Plano Diretor e o provimento habitacional para famílias de baixa renda. A construção da resiliência, com a adaptação de diversos setores do município, deve ser prioridade estratégica da gestão municipal e ser tratada de forma integrada.

Dimensão do impacto do clima: reflexões dos especialistas

Ao participar do evento, um dos maiores especialistas em mudanças climáticas no Brasil, o Prof. Dr. Carlos Nobre, resumiu em uma constatação a dimensão de todos os impactos negativos no clima do planeta: o impacto do homem no clima da Terra e no funcionamento dos ecossistemas chegou a um ponto tão significativo que a ciência já reconhece que saímos da Era Geológica e nos encontramos no Antropoceno, termo cunhado pelo químico Paul Crutzen, que denomina a época em que os humanos tomam frente e se tornam a nova força ambiental dominante na Terra.

Apesar do tema ter ganhado destaque apenas a partir da década de 1980, os riscos associados à intensificação do efeito estufa já são estudados desde o final do século XIX. Mesmo assim, ainda são enfrentados os problemas do negacionismo do movimento anticiência. Quanto às projeções climáticas futuras, a expectativa é de que ocorram cada vez mais extremos de chuva e seca, com grande risco para os biomas. Nas cidades, o fenômeno de aumento das temperaturas ganha contornos específicos, como as ilhas de calor proporcionadas pela redução de áreas verdes a alta impermeabilização do solo.

Ainda estamos muito distantes das metas de redução de emissões de GEE que visam conter a mudança do clima. Para Sergio Margulis, consultor associado da WayCarbon, precisamos tratar com urgência essa questão na agenda de hoje e não só do futuro. Coletivamente, estamos lidando de forma ineficiente com os eventos climáticos que vivemos no presente e, qualquer plano de adaptação, deve partir do cenário atual, endereçando questões de saúde, habitação, drenagem, entre outros. Um plano de adaptação envolve diferentes níveis de medidas, sejam elas mais ligadas à implantação de infraestrutura ou ações institucionais e de governança. Isso implica em diferentes custos e, neste ponto, entra o grande desafio de compatibilizar esses investimentos com outras prioridades da cidade.

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