COP16: Biodiversidade em pauta

A implementação do Marco Global de Biodiversidade (GBF) foi um um dos temas centrais da edição 2024 da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), realizada em Cali, Colômbia, que teve início no dia 21 de outubro e terminará na sexta-feira. O grande desafio está em endereçar quem vai pagar a conta para a conservação dos biomas no planeta. 

Participando pela primeira vez do evento, a WayCarbon foi representada por Henrique Pereira (COO) e Carlos Eduardo Benfica (Consultor de Sustentabilidade).“Como o país mais biodiverso do mundo, abrigando entre 15% e 20% de toda a diversidade biológica global – de acordo com dados da ONU, o Brasil tem um papel central nas discussões sobre o tema. A participação na COP 16 representa uma oportunidade essencial para repensar suas políticas de preservação”, analisou Benfica em artigo publicado na Plurale. 

Além de acompanhar as discussões, Henrique Pereira participou de dois painéis. No dia 23 de outubro, moderou a mesa “Impulsionando o financiamento e a ambição em paisagens sustentáveis: o papel dos setores público e privado”, organizada pelo CDP Latin America. “A mesa discutiu as convergências, interdependências e responsabilidades entre governos e empresas para gerenciar, conservar e expandir paisagens sustentáveis; apresentou lições aprendidas, casos de negócios e desafios a serem superados”, disse Pereira.  

No mesmo dia, o debate “Natureza e Negócios, integrando a biodiversidade às Estratégias Corporativas”, organizado pela South Pole, forneceu um contexto setorial dos desafios e oportunidades relacionados à TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosure) e à inovação de produtos. “O painel demonstrou como tópicos complexos, como a biodiversidade e o capital natural, podem ser abordados de forma objetiva e focada no que é relevante para as operações, tanto do ponto de vista do impacto quanto da dependência”, avaliou Henrique. 

Na tarde do dia 24, Henrique abordou a “Articulação Público-Privada para a Formação e Restauração de Corredores Ecológicos” em um painel que também contou com o Governo do Estado de São Paulo (SEMIL) e ISA CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista).”Embora o conhecimento técnico sobre plantio e restauração esteja consolidado, a cadeia de valor dos projetos de restauração ainda enfrenta desafios de maturidade e integração. (…) Há uma necessidade urgente de criar oportunidades para efetivar essas práticas,” enfatizou.

No dia 25, Carlos Benfica assistiu ao painel “Criando confiança nos créditos de biodiversidade: métricas, medições e comparabilidade”, organizado pela Biodiversity Credit Alliance. “O painel ressaltou que os créditos de biodiversidade precisam de uma abordagem equilibrada e transparente com métricas adaptáveis e baseadas na ciência que respeitem a diversidade da vida e dos ecossistemas. Os princípios padronizados de alto nível, as verificações de integridade e o foco na conservação, e não na mercantilização, são essenciais para criar confiança nesse campo emergente”, disse.

Destaques da COP16

Embora tenham sido feito alguns anúncios como movimentos de cooperação entre países com o intuito de preservar a biodiversidade global, o evento ainda aguardava o avanço de discussões entre chefes de estado e outras tomadas de decisão importantes até seu encerramento. A WayCarbon preparou uma lista com os destaques da Conferência, que será atualiza quando mais definições forem anunciadas: 

  • Implementação do Marco Global de Biodiversidade indefinida

Após quase dez horas na plenária final, a presidência da Conferência decidiu suspender a sessão que definiria como será implementado o Marco Global de Biodiversidade, que estava sendo chamado de “Acordo de Paris da natureza”. Uma das decisões mais esperadas do evento era: como alcançar US$ 200 bilhões por ano para que se cumpram as metas de conservação e preservação estabelecidas na COP15. As negociações foram encerradas na manhã do sábado, 2 de novembro, ultrapassando o dia oficial de encerramento, que seria sexta-feira, dia primeiro. Um dos principais pontos de impasse ocorreu quando as delegações europeias, que são doadoras do fundo global para biodiversidade, bloquearam textos sobre mobilização de recursos, uso comercial de sequências genéticas digitais e monitoramento das metas. (Reset)

  • Fundo proposto pelo Brasil

Durante o evento, ministros de diversos países manifestaram seu apoio ao Tropical Forest Forever Facility (TFFF). O fundo de US$ 125 bilhões, proposto pelo Brasil, planeja remunerar nações para que mantenham florestas tropicais em pé. O veículo ainda está em construção, mas foi elogiado por sua inovação na estrutura financeira e na proposta ambiental. Anunciado na COP28, a expectativa é que já esteja em funcionamento para a COP30, em Belém (Reset) 

  • Financiamento misto

Representantes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) estão interessados em ampliar as parcerias financeiras com o governo federal para o desenvolvimento da bioeconomia no Brasil. O grupo defende a criação de mecanismos de blended finance (financiamento misto), como linhas de crédito público-privadas, para dar suporte a produtos e iniciativas desse mercado. As recomendações foram entregues para a ministra Marina Silva e a integrantes da Fazenda e do MDIC durante o evento. (Estadão) 

  • Reportes 

Mais de 502 instituições financeiras e corporativas anunciaram que estão comprometidas a reportar de modo voluntário informações sobre biodiversidade seguindo o framework da TNFD. A lista teve um aumento de 57% em comparação ao primeiro anúncio oficial, feito em janeiro.  (ESG News)

  • Restauração 

O governo brasileiro apresentou a versão atualizada do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). Essa deve ser a principal ferramenta do país para alcançar a meta de ter 12 milhões de hectares em restauração até 2030. (Reset) 

  • G9 da Amazônia Indígena

Organizações indígenas dos nove países amazônicos lançaram em Cáli a G9 da Amazônia Indígena. Trata-se de uma aliança de entidades que representam 511 povos e tem como objetivo defender a Amazônia, os povos tradicionais, a biodiversidade e o clima global. A primeira reivindicação do grupo é que seja reconhecido como uma autoridade climática. (Valor Econômico) 

  • Povos indígenas passam a participar das tomadas de decisão

O pedido parece ter sido ouvido. Pela primeira vez, a contribuição indígena e das comunidades locais e afrodescendentes para a conservação foi reconhecida por consenso. A partir da decisão, os povos indígenas passam a compor órgão subsidiário permanente e com status que garante protagonismo na tomada de decisões relacionadas à biodiversidade. (Agência Brasil)

(Atualizado no dia 04 de novembro de 2024.)

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Maria Luiza Gonçalves
Jornalista e Analista de Comunicação at WayCarbon | + posts
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