Capital natural: riscos e geração de valor

O capital natural é uma das formas comumente reconhecidas de capital, que também pode ser: financeiro, humano, intelectual, manufaturado e cultural. O termo indica a incorporação, de forma tangível e intangível, do conjunto de recursos e processos da natureza que podem gerar valor para a sociedade, a economia e o meio ambiente. Estou certo de que a integração desse tema às demonstrações financeiras e à gestão de risco corporativa estará entre os principais desafios dos negócios até 2030.  

As organizações precisarão avaliar a materialidade do capital natural para seus negócios e cadeia de valor. Setores mais dependentes, como a mineração e a agricultura, e mais expostos, como o saneamento e o setor de alimentos, devem esperar maior pressão no curto prazo e uma demanda crescente por transparência e fornecimento de informações.

Apesar de fundamental, esse tema não costuma estar presente nos processos de tomada de decisão do setor privado; salvo em contexto de aplicação de instrumentos de comando e controle (como processos de licenciamento ambiental) ou limitado a argumentos morais. A crescente necessidade de conservar e regenerar esses recursos está estruturada a partir de dois elementos chave para a perenidade dos negócios. 

Em primeiro lugar, o capital natural é insumo básico para todos os setores da economia; e já sabemos que os níveis de consumo e extração são superiores à capacidade do planeta de recuperar esse estoque. Além disso, a exploração e a degradação dos recursos naturais (principalmente recursos hídricos e biodiversidade) são aceleradas pela mudança climática.  

O Banco Mundial estima que a economia global poderá perder US$ 2,7 trilhões até 2030 se serviços ecossistêmicos chave entrarem em colapso. Em países emergentes, o PIB poderá cair 10% ao ano, em média, com perdas maiores para as nações mais dependentes de recursos naturais. Nesse sentido, não integrar o capital natural aos negócios implica em risco operacional e estratégico, que pode interromper operações e tirar empresas do mercado. 

Em segundo lugar, há possibilidades de captura de valor a partir dessa integração aos negócios. Nesse aspecto, as empresas podem identificar oportunidades de crescimento e de posicionamento de mercado com apoio desses recursos. Para isso, o capital natural precisa ser quantificado, precificado e inserido nos processos de tomada de decisão e investimentos do setor privado.  

O caminho para a integração do capital natural 

Uma das iniciativas criadas para lidar com essa questão é a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD), formada em 2021. A força-tarefa desenvolveu um framework para o reporte de riscos e oportunidades relacionados à natureza.  A ação é composta por mais de 40 membros, entre instituições financeiras, corporações e provedores de serviços. 

O documento também auxilia a implementação de planos de ação para direcionar o fluxo financeiro global para operações e portfolios de impacto positivo. Na WayCarbon, acompanhamos de perto as discussões técnicas que envolveram o lançamento do framework, em 2023. 

O capital natural como solução 

Outra tendência que já se consolida está nas Soluções Baseadas na Natureza (SbN), conjunto de ações que visam promover a resiliência e a mitigação de impactos a partir do capital natural e seus componentes. Alguns exemplos são a restauração de encostas, jardins de chuva e atividades focadas em aumentar o armazenamento de carbono em florestas. 

Uma estimativa da WayCarbon indicou que o Brasil poderia remover quase 1.5 bilhões de toneladas de carbono a partir de mecanismos de conservação, restauração florestal, desmatamento evitado, agricultura regenerativa e blue carbon. No entanto, a análise apontou que apenas 47% desse total deve ser concretizado, já que existem restrições técnicas e econômicas. 

Na WayCarbon, nossos especialistas oferecem às empresas um olhar estratégico e aplicado sobre o capital natural (TNFD) e as SbN, para que sejam inseridas de forma custo-eficiente nas jornadas de descarbonização e na gestão de risco dos negócios. Essa atuação envolve atividades como a estruturação de roadmaps para alinhamento à TNFD e o suporte à implementação das recomendações. Em SbN, realizamos a contabilidade de remoções de carbono em ecossistemas terrestres e marinhos. Além disso, desenvolvemos projetos para geração de créditos de carbono – desde o estudo de viabilidade técnica e econômica até as fases de monitoramento e verificação. 

Referências 

https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade-e-biomas/biomas-e-ecossistemas/conservacao-1/servicos-ecossistemicos/capital-natural#:~:text=O%20capital%20natural%20%C3%A9%20o,uma%20reserva%20para%20o%20futuro 

https://www.wribrasil.org.br/noticias/solucoes-baseadas-na-natureza-exemplos-implementados-por-cidades-brasileiras 

https://www.worldbank.org/en/topic/natural-capital#1 

https://tnfd.global/ 

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Henrique é graduado em Relações Internacionais, Pós Graduado em Tecnologias Ambientais e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Co-fundador e CEO da WayCarbon, é um eterno otimista e acredita que as pessoas possuem todo o potencial de transformação e mudança que o mundo precisa. Vive o desafio de empreender e de compartilhar os valores da sustentabilidade. Mora na cidade, mas gosta mesmo é da roça: de comida no fogão a lenha, das cavalgadas pelo Rio Indaiá e dos casos que parecem mentira.

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