O custo oculto da mudança do clima
O que precisará acontecer para que as empresas passem a levar a sério o risco climático? Os sinais são claros e estão por todos os lados. Em 2017, batemos um recorde histórico: o custo econômico da mudança do clima totalizou 344 bilhões de dólares (AON, 2018).
Este valor representa um aumento de 93% registrado para a média do período 2000-2016. Para além dos valores, os principais líderes mundiais, incluindo CEOs das maiores multinacionais, concordam que 4 dos 5 principais riscos econômicos para a próxima década estão, direta ou indiretamente, relacionados à mudança do clima (WEF, 2018).
Faria sentido não se preocupar, se os negócios estivessem prontos para responder a esses impactos. Mas a verdade é que eles não estão.
Um levantamento realizado pela ClimateWise indica que apenas 30% dos custos relacionados a eventos climáticos estão assegurados. Mais importante ainda, uma pesquisa com 28 seguradoras globais indica que os custos futuros podem ser grandes demais, tornando algumas regiões do globo “inseguráveis“.
Sabemos que essa realidade terá um peso desproporcional para as economias emergentes, cujas infraestruturas e sistemas de monitoramento seguem com os olhos no passado.
Um outro estudo, realizado pela WayCarbon empregando dados do CDP Supply Chain na América Latina, indica que um elevado número de empresas seguem despreparadas para lidar com o risco climático. Utilizando cenários de clima para identificar impactos potenciais relevantes aos negócios da região e avaliando as práticas corporativas para identificação e gestão do risco climático e construção de capacidade de adaptação, o estudo conclui que 25% das empresas já encontram-se expostas à eventos climáticos e podem ser afetadas no curto e médio prazo.
Por fim, e para além dos riscos físicos, os objetivos de mitigação indicam que as ações e os investimentos para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) devem estar alinhados com as conclusões científicas de limitar o aquecimento global em 2ºC. E, se as empresas não estão agindo, os governos estão.
No mundo, já são 40 jurisdições colocando um preço no carbono por meio de tributos e mercados. Tão material quanto um impacto físico, a precificação de carbono será, em breve, refletida em balanços financeiros afetando, positiva ou negativamente, o resultado dos negócios.
Se todos estes sinais, bem visíveis e conhecidos, não parecem suficientes para tirar da inércia o setor privado, talvez custos ainda desconhecidos possam dar aquele “empurrãozinho” que falta. Este texto trata, portanto, de trazer à tona alguns elementos que seguem a margem da discussão sobre a gestão do risco climático.
A voz do investidor
O primeiro custo oculto vem do setor que, sem dúvida, tem contribuído para grandes evoluções na agenda corporativa da gestão da sustentabilidade. Os donos do dinheiro já entenderam que a mudança do clima impactará a economia de forma transversal mas que, em especial, impactará o retorno de investimentos e a capacidade de repagar dívidas, afetando a maneira de gerir a responsabilidade fiduciária dos fundos com seus cotistas.
A agenda do investidor irá pressionar, de maneira esmagadora, as práticas de gestão de risco climático. As instituições financeiras signatárias do TCFD respondem por US$81,7 trilhões em ativos e incluem o Bank of America, BlackRock e o Citigroup.
O TCFD recomenda que as empresas reportem sobre sua governança, estratégia, gestão de risco e métricas, indicadores e metas para um cenário de mudança do clima de 2ºC. É indiscutível que, caso investidores passem a exigir transparência e ação sobre os riscos climáticos, as empresas terão que agir.
Larry Fink, CEO da BlackRock, traduziu com clareza a mensagem dos investidores no inicio de 2018 informando que poderá retirar dinheiro de companhias que não demonstrem ação para gerar valor no médio e longo prazo.
Quem paga(rá) a conta
Outro custo constantemente negligenciado está relacionado à responsabilidade do setor privado na construção de capacidade adaptativa. Especialmente em economias emergentes, os governos não serão capazes de realizar os investimentos necessários.
Em outras palavras, será fundamental a canalização de recursos privados para fechar a lacuna de financiamento para construção de resiliência climática.
Os lideres empresariais podem se antecipar, identificar oportunidades e abraçar a construção de economias resilientes e de baixo carbono. Ou podem seguir parados e enfrentar custos maiores num futuro não tão distante. A necessidade de investimento em infraestrutura para os próximos anos é estimado em US$90 trilhões deixando claro que a mudança do clima precisa ser considerada em investimentos futuros.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, esta mudança exigirá que o investimento anual global de US$5 trilhões em infraestruturas “tradicionais” seja revertido em investimento em infraestruturas “verdes”. Adicionalmente, será necessário mobilizar US$700 bilhões anualmente.
Por sua vez, o International Finance Corporation (IFC) estima oportunidades de investimento da ordem de US$ 23 trilhões entre hoje e 2030. Caberá a empresas encarar os investimentos em resiliência como um custo no médio prazo ou como uma oportunidade hoje.
Eventualmente, a pressão será governamental
Por fim, caso investidores e o próprio bolso não sejam motivos suficientes para agir sobre os riscos climáticos, vale destacar que governos já estão se movimentando para obrigar as empresas a conhecer e comunicar sua exposição climática e as implicações socioeconômicas relacionadas.
Em um recente relatório da High-Level Expert Group on Sustainable Finance, a Comissão Europeia sinaliza para a inclusão do risco climático nas Diretivas de Comunicação Não-Financeira, obrigando grandes empresas a publicar relatórios regulares sobre os impactos socioambientais de suas atividades.
Seguindo a tendência, o governo do Reino Unido também deverá agir. Em Fevereiro de 2018, vários ministérios sinalizaram para a obrigatoriedade de transparência quanto a identificação e gestão dos riscos climáticos. Um empurrão regulatório parece estar mais próximo do que se imaginaria.
Miopia ou risco calculado?
É frequente ouvir o argumento de que há uma miopia por parte das lideranças empresariais. Uma “visão curta” que coloca o risco climático como um elemento de longo prazo, muito distante dos resultados do trimestre. Neste contexto, o diagnóstico uníssono é sempre a falta de informação e a necessidade de engajamento para mostrar a relevância do tema.
Veja bem, nos últimos anos tenho interagido com certa frequência com profissionais C-level (CEOs, CFOs, etc) e uma característica é compartilhada por todos eles: uma visão sobre os negócios que, sem dúvida, se estende para além do resultado financeiro do trimestre. Olhando para este público, entendo que informação e engajamento são importantes para elevar o risco climático à categoria de risco material e estratégico aos negócios. Mas, avalio que há uma sensação de risco calculado que posterga, constantemente, qualquer ação real.
Faço um paralelo com a irresponsabilidade de dirigir. Dirigir envolve uma combinação complexa de automatismos, reflexos, experiência e, principalmente, atenção. Quando dirigimos e usamos o celular, por exemplo, assumimos um risco que consideramos conhecer. Afinal, é apenas um segundo no qual fixamos nosso olhar na pequena tela. Certo?
Obviamente, temos certa percepção do que está acontecendo. Uma percepção lateral de carros, pedestres e sinalizações. Isso é tão verdade que apesar das pessoas constantemente dirigirem e usarem seus telefones a grande maioria chega bem ao seu destino. Mas o que acontece com as que não chegam? E, mais importante, até que ponto chegar ao destino não foi devido ao papel de terceiros que tiveram que redobrar seus esforços para evitar o pior?
Quando se trata do risco climático, as empresas estão dirigindo e usando o celular (talvez também mexendo no som e batendo um papo com o passageiro). Há uma percepção equivocada de que tudo está sob controle, os riscos são conhecidos e, se necessário, pode-se frear ou realizar uma guinada brusca à direita para se desviar do obstáculo. Elas vêem sinais, tem percepções, mas não conseguem enxergar, de verdade, todos os elementos que tornam a mudança do clima tão relevante quanto os demais risco estratégico.
No caso do clima, porém, vale um agravante:, se no trânsito terceiros podem desviar ou frear por você, na gestão do risco climático a capacidade de agir é, exclusivamente, responsabilidade da empresa e não poderá ser terceirizada.
Henrique é graduado em Relações Internacionais, Pós Graduado em Tecnologias Ambientais e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Co-fundador e CEO da WayCarbon, é um eterno otimista e acredita que as pessoas possuem todo o potencial de transformação e mudança que o mundo precisa. Vive o desafio de empreender e de compartilhar os valores da sustentabilidade. Mora na cidade, mas gosta mesmo é da roça: de comida no fogão a lenha, das cavalgadas pelo Rio Indaiá e dos casos que parecem mentira.
Eu respeito a China como respeito qualquer país, mas acho que os colegas a veem com extrema boa vontade. A China impressionou negativamente a todos há muito tempo devido ao seu atraso de modo geral, tirando a tecnologia de armas nucleares que a colocou como uma das cinco potências nucleares clássicas após a SGM. O que vemos agora do ponto de vista tecnológico (não me refiro à sua pujança econômica que realmente é louvável) é só que ela está acertando o passo com os outros players internacionais. Nada demais. A tecnologia da China não tem nada de impressionante. O que impressiona é sim o projeto de nação a longo prazo, aliado à pujança econômica e à tecnologia de alto nível que se vê, mas que ao meu ver não difere da tecnologia que encontramos na Alemanha, Japão, RU, França, etc. Imaginem esses países que citei com um PIB de 20 trilhões de dólares? Também ia parecer aos nossos olhos que eles seriam quase que alienígenas, mas ao meu ver é uma impressão no mínimo, um pouco exagerada. A China fez sua lição de casa. cheap