Sobre empresas e seus desafios frente à mudança do clima.
Por que as empresas deveriam avaliar melhor a sua relação com o clima?
Até o presente momento, e em especial no Brasil, existe um subdimensionamento pelo setor empresarial dos impactos e custos da mudança do clima. Algumas consequências frequentes e bastante relevantes às atividades econômicas são cada vez mais perceptíveis: o aumento da temperatura média, a maior frequência de eventos extremos, a escassez de recursos como a água, dentre outros.
Tais consequências podem ser diretamente associadas a impactos importantes na produtividade de inúmeros setores, como, por exemplo, no setor elétrico (especialmente em um país de dimensões continentais com matriz baseada na geração hídrica), e todos os grandes consumidores de energia, agronegócios, logística, mercado imobiliário e a indústria.
Quais as principais evidências da importância dessa agenda?
No mercado internacional já é perceptível a movimentação, em especial das agências de risco, que além de participarem ativamente da elaboração das recomendações da TCFD (Task Force for Climate Related Financial Disclosures), promoveram um importante ciclo de aquisições de empresas especializadas em monitoramento e avaliação de impactos climáticos.
Outro importante exemplo vem de uma mudança amplamente repercutida no posicionamento anunciado da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo com cerca de 7 trilhões de dólares sob gestão, acerca da importância de tornar a sustentabilidade um tema chave das estratégias de investimento e análise de riscos.
A gestora já vinha trazendo à pauta inúmeras recomendações sobre a importância de investimentos mais sustentáveis, mas, recentemente, resolveu dar um passo adicional, se comprometendo em desinvestir de empresas que tenham mais de 25% de suas receitas advindas da energia gerada por carvão. Sobre as práticas empresariais em vigor, a gestora já alertou que vem votando contrariamente e pretende aumentar a pressão quando entender que as práticas adotadas forem aquém das recomendadas quando o assunto é sustentabilidade e transparência nas demonstrações financeiras.
O que pode ser feito para lidar com esse desafio?
As recomendações da TCFD, principal pilar das demandas feitas pela BlackRock, representam hoje o estado da arte em transparência acerca das informações pertinentes à atividade empresarial quando levada em consideração a mudança do clima. A iniciativa se consolidou e apresentou recomendações após um amplo processo de avaliação de representantes dos mais diversos stakeholders (fontes de financiamento, agências de risco, auditorias, membros de corporações em inúmeros setores de atuação) e foram elaboradas levando em consideração as atuais estruturas de divulgação de informações (demonstrações financeiras anuais, relatórios de administração, programas de relato ligados a sustentabilidade) visando a maior integração e minimizando a necessidade de novas publicações.
Dentre as principais recomendações, podemos citar a construção de métricas e KPIs que permitam a avaliação dos impactos e a realização de análises de cenários de simulação de impactos causados pela mudança do clima. Um importante cenário a ser avaliado é o de cumprimento das metas do Acordo de Paris, por meio do qual devem ser avaliadas as consequências para cada empresa no que tange suas estruturas operacionais, rede de fornecedores e clientes, implicações regulatórias, entre outros fatores.
Ainda são muitas as empresas que tratam a questão ambiental como um tema externo ao seu universo de atuação. As recomendações da TCFD têm precisamente o objetivo de subverter parte da lógica tradicional vigente e avaliar o impacto do meio ambiente sobre as empresas, hoje e nos anos por vir.
Quanto mais cedo a ação, mais suave a adaptação.
Agentes que não acompanharem a agenda tendem a enfrentar cada vez mais desafios para identificarem oportunidades e atuarem antes dos riscos associados a essa janela de mudança. A visão cada vez mais integrada entre o meio ambiente e as atividades econômicas é reflexo de um processo de transformação que se acelera a cada dia na agenda das corporações. É preciso pensar os negócios e seu potencial de adaptação a essa realidade em desenvolvimento. Sua empresa está preparada para lidar com essa transformação?
Julio é ex-conomista, àsvezestariano e nunca demógrafo, apesar do diploma de mestrado na área. Trabalha há 10 anos em consultoria para empresas nos mais diversos setores. Durante a maior parte de sua carreira, trabalhou com infraestrutura e energias renováveis, atuando especialmente na avaliação de viabilidade e estruturação financeira de projetos. Desde que se juntou à WayCarbon, vem trabalhando na integração da agenda sustentável às práticas corporativas através da quantificação de impactos financeiros e ambientais.