Mudanças climáticas e vulnerabilidade social

No artigo anterior, abordamos o papel dos Bancos de Desenvolvimento (BDs) frente ao desenvolvimento sustentável por meio da avaliação de riscos físicos e de transição em operações de crédito, tendo como pano de fundo, a ferramenta de análise que estamos produzindo via UK PACT. 

Desta vez, iremos explorar os aspectos de Igualdade de Gênero e Inclusão Social (GESI, no acrônimo em inglês), um dos eixos do projeto. O GESI visa uma análise holística de como fatores sociais, econômicos e políticos afetam grupos socialmente excluídos e minorias, levando em consideração regras, direitos e normas sociais, culturais e econômicas, bem como valores e crenças. 

Efeitos das mudanças climáticas na desigualdade social

Considerando a transversalidade do tema, é fundamental ressaltar, portanto, os impactos específicos da mudança do clima sobre populações vulneráveis. Estima-se que dos 10 países mais afetados por eventos climáticos extremos de 1998 a 2017, oito eram países em desenvolvimento e os efeitos da mudança climática têm sido agravantes da desigualdade social, expondo a população de baixa renda a impactos adversos à saúde, insegurança alimentar, perda de renda, entre outros.

Além disso, a maior frequência de ocorrência de eventos extremos, como ciclones e tempestades, pode agravar a situação daqueles que possuem menos recursos para lidar com estes impactos ou que ainda estejam em processo de reconstrução. Como consequência, a migração em decorrência do clima tem se tornado cada vez mais frequente.

De que forma as mulheres estão inseridas na pauta climática? 

Além da desigualdade social exacerbada pela mudança do clima, a desigualdade de gênero também é acentuada como consequência dessa mudança. Isso porque as diferentes realidades das mulheres no Brasil são pouco ou nunca reconhecidas – agricultoras familiares, por exemplo, recebem menos recursos que homens com a mesma função; já mulheres trans tendem a viver em locais mais precários e são menos propensas a receberem ajuda em caso de desastres naturais.  

Mesmo nos processos de tomada de decisão, as mulheres ainda estão pouco representadas – no Brasil, apenas 15% da Câmara dos Deputados é ocupada por mulheres – e, quando as mulheres contribuem com o combate ao agravamento da crise climática, são pouco reconhecidas. 

Nesse sentido, fica evidente a necessidade de que bancos de desenvolvimento, em especial, mapeiem e avaliem os diferentes impactos decorrentes da mudança do clima. Além disso, medidas criadas pelo governo para evitar, reduzir ou mitigar tais impactos são essenciais para a proteção da população, bem como outros mecanismos de proteção social para ajudar as pessoas a se realocarem e aprenderem novas habilidades caso sejam prejudicadas por eventos climáticos extremos. O planejamento preventivo é, portanto, fundamental para reduzir a diferença de desigualdade intensificada pelas mudanças climáticas.  

O papel social das instituições financeiras 

A gestão dos riscos climáticos em instituições financeiras, portanto, não se resume apenas à presença de uma governança transparente que inclua ações voltadas à preservação ambiental, mas vai além, incluindo ações que contribuam com a igualdade de gênero, inclusão social e proteção de populações vulneráveis. Particularmente nos bancos, essa governança climática é ainda mais complexa devido ao risco de contraparte, que exige que os conselhos de administração dos bancos sejam informados sobre onde os riscos climáticos podem surgir em sua carteira.  

Nesse panorama, o projeto para o qual a WayCarbon foi selecionada a contribuir, inclui o desenvolvimento de uma ferramenta que avalie, de forma integrada, os riscos climáticos físicos e de transição associados a determinados setores da carteira de crédito de bancos de desenvolvimento brasileiros e oferecerá um documento público detalhando a importância dessa ação, bem como a sua metodologia e resultados de forma que a ferramenta possa ser escalada a outras instituições financeiras no Brasil e, assim, contribua de forma ampla para frear alguns impactos negativos associados à mudança do clima global. 

UK PACT 

Como comunicado na última edição da COP, ano no passado, a Waycarbon está desenvolvendo ao lado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) o projeto Mainstreaming Climate Risk Assessment in Credit Operations of Brazilian Development Banks, que visa a criação de uma ferramenta para apoiar os BDs (Bancos de Desenvolvimento) nas análises de risco de crédito, levando em conta o fator de risco climático. A iniciativa é uma parceria com a 2° Investing Initiative. 

Inédito no mercado por conta da proposta inovadora de consolidação do risco climático a partir dos componentes físicos e de transição, o projeto é financiado pelo UK PACT, um programa do International Climate Finance (ICF), que destinará £60 milhões para projetos que visam endereçar os desafios da mudança do clima. Financiado pelo Department for Business, Energy and Industrial Strategy (BEIS) do Reino Unido) na linha Greening Financial Systems, com a contrapartida de ser disponibilizado gratuitamente para os BDs após o lançamento, previsto para junho de 2022. 

Consultora em Sustentabilidade e Estratégia ESG at WayCarbon | + posts
Analista de Sustentabilidade at WayCarbon | + posts
Compartilhe esse conteúdo

  • Juliana Miranda Mitkiewicz /

    Ei Equipe Way, parabéns pelo projeto. Nathalia e Larissa, excelente artigo.
    Sou coordenadora do Núcleo de Mulheres e Territórios do Lab. Arq. Futuro de Cidades do Insper e estamos esse ano planejando uma pesquisa sobre Justiça Climática com um olha de gênero em territórios vulneráveis. Queria saber se teriam interesse em conhecer mais o núcleo e eventualmente participar de alguma forma da pesquisa.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.