Soluções baseadas na natureza: relatório calcula potencial brasileiro

O número de empresas que assumiram compromissos climáticos baseados na ciência é crescente. Mais de 5.000 organizações no mundo firmaram compromissos climáticos em 2023, e mais da metade delas possui metas aprovadas pela SBTi, segundo o targets dashboard da iniciativa. Para atingir metas alinhadas ao Net Zero, as empresas precisam estabelecer ações contundentes para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) como, por exemplo, a mudança de matriz energética movida a combustíveis fósseis para outra baseada em fontes renováveis.

(Para compreender melhor termos como “SBTi” e “Net Zero”, consulte o nosso glossário abaixo).

Além disso, o investimento em projetos de carbono, desenvolvidos a partir de soluções baseadas na natureza (NbS, da sigla em inglês) podem fazer parte da estratégia climática das empresas. “Um terço dos compromissos climáticos poderão ser atingidos com apoio das NbS. Estamos falando de iniciativas como restauração de florestas e de mangues, por exemplo”, explica Isabela Aroeira, Gerente de Inteligência de Mercado da WayCarbon. A análise faz parte do relatório “Unlocking Brazil’s green potential A Comprehensive Market Analysis and Business Opportunities on Nature-Based Solutions”, desenvolvido pelos especialistas da WayCarbon e lançado neste mês. 

Fonte: SBTi

Como usar as soluções baseadas na natureza de forma efetiva na estratégia de descarbonização? 

Henrique Pereira, COO da WayCarbon, reforça que o investimento em NbS não deve ser feito de forma pontual por uma organização. “Mobilizações como o Net Zero guiam as empresas no entendimento de que é preciso focar em reduzir emissões e depender cada vez menos dos créditos gerados por projetos. Com nosso relatório em mãos, o mercado terá acesso a esse tipo de insight e poderá avaliar como investir em soluções com papéis sinérgicos dentro de uma estratégia de descarbonização mais ampla”, diz. 

Qual é o verdadeiro potencial do Brasil em soluções baseadas na natureza? 

Nesse cenário, o Brasil é visto pelo mundo como um grande fornecedor de NbS, mas o executivo alerta que é importante ir além ao avaliar esse protagonismo, para que haja clareza sobre o que é possível executar na prática. “Precisamos entender o potencial teórico, o que faz sentido tecnicamente e economicamente e qual é o potencial que uma empresa individualmente consegue fornecer para o mercado. Daí a relevância do relatório”, conclui Pereira. 

A estimativa da WayCarbon indica que o Brasil poderia fornecer quase 1.5 bilhões de toneladas de carbono por ano em reduções ou remoções de emissões de GEE a partir de projetos que envolvem: restauração, desmatamento evitado, agricultura regenerativa e blue carbon. No entanto, ainda de acordo com Henrique, “Cerca de 47% desse total são oportunidades que podem ser materializadas, já que existem obstáculos como restrições técnicas, de uso do solo, econômicas, entre outras”, explica.  

Qual foi a metodologia utilizada no relatório? 

A WayCarbon desenvolveu uma metodologia exclusiva para calcular o tamanho do mercado para projetos de NbS, a partir de informações públicas, literatura e experiência adquirida ao longo de 17 anos de trabalho. Ao analisar a interseção entre as NbS e os mercados de crédito de carbono, o estudo identifica as principais oportunidades de negócios para as empresas que buscam investir nessas soluções no Brasil. Acesse o link para ter acesso à amostra gratuita do relatório e saiba como adquirir a versão completa (conteúdo em inglês). 

Glossário 

NbS: As soluções baseadas na natureza (NbS) aproveitam o poder dos sistemas e processos naturais para enfrentar os desafios ambientais, sociais e econômicos, ao mesmo tempo em que promovem a conservação da biodiversidade e melhoram o bem-estar humano.    

Blue Carbon: Soluções focadas em proteger e restaurar os ecossistemas costeiros, como os manguezais. Elas podem proporcionar uma abordagem econômica para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e criar resiliência aos impactos das mudanças climáticas. 

SBTi:  A Science Based Targets Inititive fornece às empresas um caminho claramente definido para reduzir as emissões de acordo com as metas do Acordo de Paris (limitação do aquecimento a 1,5°C). Atualmente mais de 4.000 empresas ao redor do mundo já se juntaram à iniciativa.    

Net Zero: De acordo com a SBTi, para atingir o Net Zero, as empresas devem reduzir profundamente as emissões e contrabalançar o impacto de quaisquer emissões remanescentes. Isso implica em: reduzir as emissões de escopo 1, 2 e 3 a zero ou a um nível residual consistente com o alcance de emissões globais líquidas zero* ; e neutralizar permanentemente quaisquer emissões residuais no ano alvo e quaisquer emissões de GEE liberadas na atmosfera posteriormente. Para contribuir com esse esforço global, as empresas são fortemente incentivadas a irem além de suas metas de redução baseadas na ciência para mitigar as emissões além de suas cadeias de valor.   

 

* Ou reduzir a um nível do setor, de acordo com trajetórias de 1,5°C elegíveis 

Maria Luiza Gonçalves
Jornalista e Analista de Comunicação at WayCarbon | + posts
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