Recursos naturais esgotados: entenda o Overshoot day
Dilema para os recursos naturais: o que é overshoot day
Overshoot day, conhecido no Brasil como Dia da Sobrecarga da Terra, é o dia em que a humanidade consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de produzir em um ano. A biocapacidade mundial (quantidade de recursos que o planeta é capaz de produzir no ano) é dividida pela pegada ecológica mundial (demanda da humanidade no ano) e multiplicada por 365, número de dias no calendário anual. Assim se determina o dia em que a humanidade esgota os recursos naturais que tem disponíveis por um ano inteiro, sem contar com a necessidade das outras espécies.
Para fazer o cálculo são utilizados grandes conjuntos de dados nacionais agregados, por isso devemos considerar o overshoot day como um dado aproximado, de precisão limitada. De toda forma, ele demonstra que a demanda da humanidade sobre a natureza atingiu um nível insustentável. Em 2016, o overshoot day ocorreu em 8 de agosto, antes mesmo de o ano terminar. Ou seja, a demanda sobre a natureza está indo além da capacidade da Terra de se regenerar. Em 2017, não foi diferente: esgotamos os recursos que a Terra pode produzir em um ano no dia 02 de agosto.
O cálculo da data é feito pela organização de pesquisa internacional Global Footing Network (GFN), que pretende mudar a forma como o mundo gerencia os recursos naturais, tornando os limites ecológicos fundamentais para a tomada de decisões. A GFN é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2003 com o objetivo de alcançar a sustentabilidade global.
Por que estamos no vermelho?
O esgotamento dos recursos naturais acontece por vários fatores. Entre eles, pescas e colheitas são consumidas mais rapidamente do que o tempo que demoram para se reproduzir e crescer novamente; florestas são desmatadas em uma velocidade maior do que a necessária para se recuperarem; e, principalmente, a emissão de dióxido de carbono na atmosfera é maior do que a capacidade das florestas e dos oceanos de absorvê-lo. Segundo os dados da GFN, a emissão de CO2 no ambiente compõe mais da metade da demanda do ser humano sobre a natureza.
As consequências desse excesso ecológico são cada dia mais evidentes, com desequilíbrios como a extinção das espécies, a escassez de água doce, a erosão do solo, a perda de biodiversidade e o aquecimento global. Esse aumento da temperatura da Terra trouxe aos governos uma grande preocupação, e a prioridade de refletir sobre a adoção de medidas benéficas para o desempenho econômico e que, ao mesmo tempo, sejam positivas para a natureza.
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A pegada de carbono (medida da quantidade total das emissões de gases do efeito estufa) também está ligada a outros fatores, como o uso de terras para agricultura e pecuária, a redução das florestas e a construção das cidades, atividades que ocupam grandes espaços e promovem desmatamento. Assim, com a remoção da vegetação nativa, muitas terras se tornam improdutivas para a absorção de carbono e o gás se acumula na atmosfera em vez de ser completamente absorvido.
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A cada ano, mais cedo
Fonte: WWF Brasil |
De acordo com a Global Footprint Network, para sustentar os padrões de consumo da humanidade, seria necessária 1,7 Terra. Se mantivermos esse ritmo de consumo, antes de 2050 vamos precisar de duas Terras.No ano de 2000, a GFN começou a coletar dados das Nações Unidas, da Agência Internacional de Energia e da Organização Mundial do Comércio (OMC), além de registros governamentais de diversos países, que permitem à organização calcular o overshoot day. Os dados são claros: o Dia de Sobrecarga da Terra está chegando cada vez mais cedo. Do final de 5 de outubro, no ano 2000, oovershoot day passou para 2 de agosto em 2017.
No cenário global, se os países aderirem aos objetivos determinados pelo Acordo de Paris, será necessário zerar a pegada de carbono do mundo até 2050. O acordo surgiu de uma conferência realizada em dezembro de 2015, em que um tratado com medidas para reduzir a emissão de dióxido de carbono a partir de 2020 foi aprovado por quase 200 países.
A questão é que essas medidas pedem um novo estilo de vida em nosso planeta, exigindo esforços coletivos e individuais. Embora pareça difícil, implementar esse novo estilo de vida é possível, graças à tecnologia que possuímos atualmente e à vantagem financeira que a sustentabilidade propiciaria, com benefícios que podem ultrapassar os custos.
O que podemos fazer para reverter esse quadro?
Medidas como o uso de energia renovável, uma indústria mais responsável, que atue contra o desperdício de recursos naturais e invista em recursos sustentáveis, além da atitude dos governos, capazes de tomar decisões corretas em favor da sustentabilidade, são necessárias para mudar o cenário atual. Mas, como o tempo político é lento, podemos começar a agir individualmente, repensando nossos hábitos, investindo em energias renováveis e comprando produtos que sejam sustentáveis.
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A sociedade civil, ao contrário do que imaginamos, é capaz de pressionar o setor industrial por meio de suas demandas, incentivando a produção de forma ecológica e de produtos sustentáveis.
Ainda há esperanças
Alguns países se dispuseram a encarar o desafio. A Costa Rica, por exemplo, gerou 97% de sua eletricidade através de energias renováveis durante os primeiros três meses de 2016. Portugal, Alemanha e Grã-Bretanha também apresentaram níveis inovadores de capacidade de energia renovável no ano passado: 100% da energia desses países foi atendida por fontes renováveis durante vários minutos. Na China, o governo idealizou um plano para reduzir o consumo de carne em 50% entre sua população, calculando que a emissão um bilhão de toneladas de CO2 pode ser evitada até 2030.
O Brasil, por sua vez, está relativamente em situação vantajosa, por possuir uma das maiores reservas ecológicas do mundo, com suas vastas áreas florestais. Segundo dados da ONU, desde 1961 a capacidade total dos ecossistemas brasileiros em se renovar aumentou em 5,8%, embora nos últimos 50 anos o país tenha reduzido 9% dos seus recursos florestais.
Restou alguma dúvida em relação ao Overshoot Day? Sabe de outra boa referência a esse respeito? Divida conosco nos comentários!
Vivian é jornalista e estudante de publicidade. Na Waycarbon, integra o setor de marketing como produtora de conteúdo. Gosta de escrever sobre as novas possibilidades para a construção de um futuro sustentável e acredita na comunicação como uma ferramenta para a mudança.