Entrevista: aprendizados da Alpargatas na busca pela descarbonização

A Alpargatas, fundada e sediada no Brasil há mais de 115 anos, tem como principal marca a Havaianas, líder mundial em calçados abertos. A empresa também tem participação na Rothy´s, marca norte-americana de calçados sustentáveis e na ioasys, empresa de inovação e tecnologia. Com produtos comercializados em mais de 130 países, a Alpargatas tem uma cadeia de suprimentos vertical, quatro unidades fabris no Brasil e mais de dezessete mil colaboradores em todo o mundo. Com tamanha estrutura e alcance é compreensível que o grande desafio da proprietária da Havaianas dentro da agenda climática esteja no escopo 3, ou seja, nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) indiretas provenientes da cadeia de valor. Garantir um monitoramento acurado dessas informações e encontrar formas de engajar a cadeia em prol de um objetivo comum de redução de emissões são pontos centrais para o grupo. 

Em entrevista ao blog da WayCarbon, Maria Augusta Bottino, Diretora de Sustentabilidade da Alpargatas, abordou os aprendizados da indústria de calçados na agenda climática e contou de que forma essas questões foram endereçadas pelo grupo com apoio da WayCarbon, o que envolveu tanto os serviços de consultoria quanto o Climas, software de Gestão Integrada de GEE e ESG. Além disso, Bottino trouxe uma prévia dos próximos passos da empresa na jornada de descarbonização. 

1.Qual é o principal desafio do setor de atuação da Alpargatas na jornada de descarbonização?  

 R: O principal desafio do nosso setor em relação à jornada de descarbonização é amplo, mas gira principalmente em torno do escopo 3 – assim como grande parte dos setores. Trata-se de garantir um monitoramento acurado dessas informações e encontrar formas de engajamento e sensibilização da cadeia em prol de um objetivo comum de redução.  Aspectos como matérias primas e logística (no nosso caso, extremamente capilarizada e global) são, sem dúvidas, pontos de especial atenção. 

2.Quais direcionamentos estratégicos levaram a Alpargatas a buscar a consultoria da WayCarbon?  

R: Sustentabilidade é um dos quatro direcionadores estratégicos do nosso negócio. Amarrado a isso, em 2022, publicamos nossa Estratégia de Sustentabilidade Corporativa, com 12 compromissos de longo prazo (até 2030), que tangibilizam operacionalmente nossos três principais focos de atuação: Economia Circular – em uma perspectiva de cadeia de valor, desde a concepção até o pós uso de nossos produtos; Operações Responsáveis – visando reduzir o impacto das nossas operações, também atuando em cadeia e; Desenvolvimento Local e Diversidade e Inclusão – atuando em regiões e ambientes onde operamos, contribuindo para uma sociedade mais diversa, inclusiva e igualitária. 

No pilar de Operações Responsáveis, temos como compromisso específico a redução de 30% de nossas emissões absolutas (diretas e indiretas), e outros dois, ligados à energia, visando reduzir nossa intensidade e operar com uma matriz renovável. Adicionalmente, existem compromissos que afetam indiretamente o tema (mas não são menos importantes para os resultados), voltados ao percentual de matéria-prima renovável e/ou reciclada em nossos produtos e embalagens. 

A contratação da WayCarbon buscou permitir a visualização clara e completa de nosso inventário/baseline, já à luz das premissas da SBTi, bem como uma análise estratégica inicial do caminho a ser percorrido até o objetivo final.  Além disso, permitiu avaliar com mais clareza a contribuição das metas adjacentes (matéria prima, energia, etc.) e, dentre todas as possibilidades mapeadas, quais são aquelas que já se mostram mais custo-efetivas. 

3. Como as dores da Alpargatas foram solucionadas a partir do trabalho realizado?       

R: Como já mencionado anteriormente, o trabalho realizado foi fundamental para o mapeamento das emissões do escopo 3 da companhia, de forma já alinhada às diretrizes do SBTi. Além disso, tivemos uma primeira visão de iniciativas com potencial de redução de emissões na companhia, relacionadas a sua expectativa de custo financeiro e plotadas em projeção até 2030 (o que foi um importante norte para o começo de nossa jornada). Geramos, por fim, um dashboard de acompanhamento, considerando o input dos resultados reais da companhia, confrontados com a curva necessária para o atingimento da meta, o que nos viabilizará uma visão analítica e estratégica ao longo dos próximos anos. 

4.Quais foram os principais aprendizados obtidos com o trabalho sobre emissões de escopo 3 e engajamento da cadeia de valor? 

R: Foi possível visualizar, com muita clareza, quais são nossas categorias de maior relevância, nossos gaps e quais devem ser os principais focos de atuação da companhia nos próximos anos. Foi possível ainda compreender a dimensão do desafio e da necessidade de engajamento ao longo de nossa cadeia de valor e começar a pensar em estratégias de atuação. 

5. Além do escopo de consultoria, a Alpargatas também utiliza o Climas, software de Gestão Integrada de GEE e Gestão ESG da WayCarbon. De que forma a ferramenta contribuiu para alavancar o olhar estratégico à gestão climática da Alpargatas? 

R: O Climas é essencial para o monitoramento e gestão das emissões da companhia, pois consegue trazer de forma simples, clara e consolidada as emissões categorizadas por escopo, categoria, localidade, parâmetro, entre outras especificações. Isso permite o rastreio e verificação das emissões, facilitando as ações de controle sobre as mais representativas. O input transversal e sistemático de dados também ajuda a engajar e a responsabilizar todos os atores envolvidos no processo. 

As diferentes possibilidades e filtros para visualização da informação consolidada permite uma visão mais high level e o formato, já em alinhamento com os principais frameworks climáticos do mercado, facilita muito as práticas de gestão e transparência. 

6.Quais são os próximos passos da empresa na agenda? 

R: Certamente iremos continuar evoluindo na agenda climática, apurando nossa mensuração, principalmente no que diz respeito ao escopo 3 e focando no mapeamento, avaliação, desenvolvimento e acompanhamento das iniciativas prioritárias para redução das emissões na companhia e ao longo de nossa cadeia de valor. Paralelamente, seguimos avançando para fortalecer nossa governança climática da companhia e a gestão de nossos riscos e oportunidades atrelados. 

Maria Luiza Gonçalves
Jornalista e Analista de Comunicação at WayCarbon | + posts
Compartilhe esse conteúdo

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

top