Tendências da agenda climática em 2024

2023 foi marcado por grandes acontecimentos na temática de sustentabilidade, como o lançamento da International Financial Reporting Standards (IFRS), a aprovação do Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) pela União Europeia, a aprovação do projeto que regulamenta o mercado de carbono brasileiro no senado e a realização da COP28, em Dubai. Mas, e para 2024, para quais pontos as empresas devem estar atentas na agenda climática? Para entender melhor o tema, principalmente sob a ótica da descarbonização, conversamos com Higor Turcheto, Gerente de Mitigação na WayCarbon.  

1. Na sua visão, quais são os principais temas na agenda de descarbonização para os quais as empresas privadas devem ficar atentas em 2024? 

R: Sem dúvida nenhuma, as organizações deverão manter ações de aprimoramento no seu processo de monitoramento e gestão das emissões de GEE, alinhadas à um processo claro de descarbonização sob um horizonte temporal. E nesse contexto, além dos esforços de Escopo 1 e 2, é fundamental o mapeamento e monitoramento das emissões indiretas da cadeia de valor (Escopo 3), identificando os principais desafios e oportunidades existentes junto aos seus fornecedores, com a definição de plano de engajamento, avaliação de sinergias para redução de emissão e desdobramento de ações práticas de mitigação das emissões indiretas.

Como parte dos compromissos de redução das emissões de GEE, alinhados com a trajetória de limitação da temperatura em 1,5°C, cada vez mais as organizações serão convidadas a demonstrarem como a estratégia de descarbonização está refletida no modelo de governança e planejamento financeiro da empresa.  

No horizonte de tempo, as organizações devem demonstrar como esperam atender metas de curto prazo e qual o planejamento para ações na agenda de longo prazo rumo ao Net Zero. E, nesse sentido, como ainda há uma lacuna tecnológica que suporte a curva de redução de emissão, além do foco para as iniciativas já praticadas pelo mercado – como compra de certificados de energia, eletrificação de frota leve, reduções de processo e outros – é importante um olhar para necessidade de pesquisa e desenvolvimento de novos projetos, que atendam às necessidades do negócio.   

2. Existe algum prazo ligado à regulamentação e obrigatoriedades que começarão a partir desse ano? Ou algum novo framework que está previsto para ser lançado no próximo ano? 

R: Não há um framework específico para a agenda de descarbonização sob a ótica regulatória. Contudo, com a evolução de mercados regulados, as empresas serão obrigadas a reportar seus dados de emissão relacionados à produto, à exemplo da União Europeia, onde o primeiro reporte de produtos referente ao CBAM deverão seguir com a submissão até 31/01/2024. Sob essa ótica, a empresas que buscam se antecipar na agenda de descarbonização podem gerar maior competividade, com a possibilidade de oferta de produtos com menor intensidade de carbono.  

Complementarmente, para as organizações que alinharam suas ambições de redução de GEE com metas baseadas na ciência, como SBTi, devem intensificar a agenda de descarbonização, e formalizar por meio de seus relatórios de sustentabilidade a evolução dessa temática.   

3. As emissões de Escopo 3 são um grande desafio para a maioria das empresas. É possível dizer que nos próximos anos serão cada vez mais demandadas por stakeholders? Qual é a razão de tamanha importância?

R: Sim, esse é um escopo relevante para o desenho de uma boa estratégia de descarbonização e cada vez mais o mercado tem provocado às empresas à seguirem com essa contabilização. 

Sob a ótica de uma empresa ansiar uma meta baseada na ciência, o cálculo das emissões da cadeia de valor (Escopo 3) é condição mandatória. Conforme metodologia SBTi, para que uma empresa submeta uma meta para aprovação precisará gerenciar suas emissões indiretas obrigatoriamente.

Apesar da complexidade de monitoramento desse escopo, a gestão da cadeia de valores gera um círculo virtuoso necessário para trajetória de redução de emissão atreladas à limitação do aquecimento global em 1,5°C. Sem o engajamento de todos os setores, dificilmente será possível atingir os níveis de redução esperados, além disso, à partir dessa análise é possível criar sinergia entre cliente-fornecedor promovendo um ambiente de benefícios mútuos na adoção de medidas de mitigação. Na prática, se observa que as grandes empresas, já envolvidas com a agenda climática, acabam influenciando empresas menores a engajarem na causa. 

4. Qual conselho você daria para empresas que querem seguir rumo a uma operação de baixo carbono em 2024? 

R: O primeiro passo na trajetória de descarbonização está na definição clara da ambição da organização, divulgando quais são as expectativas de redução de emissão – no curto e longo prazo – e desdobrando essas metas dentro do planejamento estratégico do negócio, de forma à refletir nos planos de crescimento, financeiro e de investimento em projetos de mitigação.  

Somados à isso, a operacionalização de uma estratégia de descarbonização, com excelência, exige dedicação e envolvimento da alta liderança, que pode suportar a tomada de decisão da agenda através da definição de um modelo de governança que preconize a transversalidade de responsabilidade entre todas as áreas de negócio e priorize investimentos.  

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