Adeus crise hídrica? A chuva deste verão foi suficiente?

crise hídrica

O grande volume de chuva observado em 2016 parece ter dispersado a atenção pública da chamada “crise hídrica” do Sudeste brasileiro, amplamente discutida pela mídia e vivenciada pela população ao longo do ano passado. Porém, permanece o questionamento: a taxa pluviométrica deste verão terá sido suficiente para compensar as baixas dos reservatórios de água, ao ponto de não gerar mais preocupação? Descubra abaixo!

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Afinal, a chuva afastou a crise hídrica?

Ainda não! Pelo menos para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), abastecida pelo Sistema Paraopeba e Velhas.

O Sistema Integrado de Abastecimento de Água da RMBH (1) abrange 16 municípios: Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ibirité, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Mateus Leme, Nova Lima, Raposos, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas e Sarzedo. Esse Sistema pode ser dividido em duas grandes bacias de abastecimento de água:

  • Bacia do Paraopeba, responsável por 60% da RMBH, predominantemente pela região Oeste;
  • Bacia do Rio das Velhas, responsável por 40%, predominantemente pela região Leste.

crise hidricaFonte: ANA – Atlas Brasil – Abastecimento urbano de água. (3) 

De acordo com dados disponibilizados pela COPASA (2), apesar do grande volume de chuva, muito superior aos anos anteriores de seca (2014 e 2015), o Sistema Paraopeba, composta pelos reservatórios de Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores, atingiu a marca de 45,1%. Este valor já é superior ao registrado em fevereiro de 2015 (29,9%), mas ainda fica 32 pontos percentuais abaixo da marca em fevereiro de 2014 (77%), e 47 p.p. abaixo da marca em fevereiro de 2013 (91,2%). 

crise hídricaCom as médias históricas dos índices pluviométricos sendo superadas este ano, já nota-se um salto de 20,7 pontos percentuais, em comparação com o salto de 8,8 p.p. registrado entre fevereiro e março de 2015.

Se seguirmos com a mesma curva de consumo ao longo do ano, a tendência óbvia será uma nova crise hídrica no final da estação seca de 2016. Em um cenário mais pessimista, o relaxamento com a situação de aparente conforto com o índice de chuva do verão de 2016 pode acentuar o consumo, agravando ainda mais  a situação vivenciada no final de 2015.

Moral da história

  1. O consumo precisa ser reduzido em todos os usos: residencial, industrial e agrícola.
  2. Campanhas de conscientização precisam ser levadas a cabo pelos representantes públicos, para não repetirmos o erro do alarme tardio.
  3. As concessionárias de captação e distribuição de água precisam trabalhar para ser mais eficiente na produção de água. Isto significa: a) Reformar continuamente seus sistemas de captação e distribuição (e reduzir as enormes perdas); b) Recuperar e preservar as bacias de contribuição de seus reservatórios.
  4. Perguntas precisam ser feitas: O consumo aumentou? O volume de chuva deste ano está se acumulando proporcionalmente nos reservatórios ou há algum sumidouro que precisa ser identificado, como maior evaporação ou absorção de água subterrânea?

REFERÊNCIAS:

(1) ARSAE-MG. Relatório de Fiscalização – Sistema Integrado de Abastecimento de Água da RMBH. Belo Horizonte. 2013. (disponível em http://arsae.mg.gov.br/images/documentos/rf_tec_op_saa_sistema_bacia_paraopeba.pdf)

(2) Monitoramento do nível dos reservatórios. Acessado em 12/02/16. Disponível em http://www.copasa.com.br/wps/portal/internet/abastecimento-de-agua/nivel-dos-reservatorios

(3) ANA – Atlas Brasil – Abastecimento urbano de água. Acessado em 12/02/16. Disponível em http://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/analise/RegiaoMetropolitana.aspx?rme=5

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Aproveite e leia o nosso post sobre “O Consumo da Água na Produção de Água” e entenda como funciona a metodologia da Pegada Hídrica!

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Leo é engenheiro ambiental, 70% geógrafo e mestre em estudos ambientais, com experiência em gerenciamento de projetos ambientais. Na WayCarbon, atua como gerente de equipe e projetos; dá apoio a atividades de objetivo estratégico da empresa; e lidera o desenvolvimento do Licentia - uma spinoff da Way que aplica inteligência artificial para otimizar o processo de licenciamento ambiental. Muito versátil, é movido pelo desafio de empreender, ama a vida outdoor, prefere IPAs, é aprendiz de bateria e escalador, e pai da Julia.

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