Os desafios da cadeia de valor para as empresas de energia renovável

O setor elétrico possui um papel fundamental no alcance dos esforços globais de contenção do aumento da temperatura da Terra. A diversificação da geração com a oferta de renováveis tem sido a aposta de muitas empresas para protagonizar a transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, as empresas de energia renovável têm se deparado com um desafio: como expandir a geração, apoiando outros setores na transição energética, sem o incremento das emissões indiretas associadas às suas operações? 

O Setor Elétrico Global e Brasileiro 

Segundo a iniciativa da WRI, Climate Watch¹, o setor elétrico possui as maiores emissões diretas quando comparado com outros setores, tendo sido responsável por aproximadamente 30% das emissões globais em 2019. Isso é devido à matriz de geração de eletricidade ser composta por 73% de fontes não renováveis, majoritariamente dependente de carvão e gás natural, conforme a publicação da IEA de 2021² .  

Já o Setor Elétrico Brasileiro (SEB) possui uma matriz predominantemente renovável, e em 2022 atingiu o maior marco dos últimos 9 anos, com 87% de participação de renováveis na geração total. Mais de 60% da eletricidade produzida no Brasil nesse mesmo ano foi oriunda de usinas hidrelétricas, e a energia eólica se consolidou como a segunda fonte mais relevante em termos de geração de eletricidade no país, superando pela primeira vez as térmicas a gás natural, carvão e derivados de petróleo somadas.  

De acordo com o Climate Watch, o SEB é apenas o quarto setor mais emissor de gases de efeito estufa (GEEs), tendo maior representatividade as emissões por desmatamentos, agricultura e transporte. As emissões para a produção de eletricidade e vapor representaram aproximadamente 7% das emissões nacionais no ano de 2019. 

Os desafios do escopo 3 

A baixa dependência de combustíveis fósseis na geração elétrica brasileira desloca a materialidade das emissões para a cadeia de valor. Para as empresas de energia renovável, as emissões da cadeia upstream, que antecede a geração, pode chegar a representar quase a totalidade das emissões da empresa. Somado a isso, a tendência de expansão da demanda por eletricidade³, em especial oriundas de fontes menos intensivas em emissões, resulta no aumento das emissões indiretas associadas a equipamentos, infraestruturas e obras de implantação de usinas de geração renovável. 

Nesse contexto, mapear, quantificar e reduzir as emissões de escopo 3 passa a ser estratégico para empresas do setor para a adoção de compromissos climáticos robustos, pautados por iniciativas de referência, como a Science Based Target Initiative. Entretanto, a gestão das emissões de escopo 3 incorre à superação de uma séria de complexidades pela distância entre a empresa e as maiores fontes de emissão e poder de influência sobre os diversos atores na cadeia de fornecimento.   

A cadeia de fornecimento pode ser dividida em Tiers, de acordo com a proximidade com a empresa. Os fornecedores de Tier 1 são os diretos, o Tier 2 contempla os fornecedores dos fornecedores, e assim por diante. Para se ter como exemplo, no ciclo de vida de uma turbina eólica, mais de 50% das emissões estão localizadas no Tier 3, isto é, nos fornecedores da indústria de base, como siderúrgicas e cimenteiras5

Fonte: Ecoinvent 3.9.1 adaptado pela WayCarbon.

Nossas Soluções 

Frente a esse contexto, a WayCarbon desenvolveu uma abordagem estratégica e abrangente como resposta a desafios complexos na cadeia de fornecimento.  

Baseando-se em diretrizes reconhecidas, a jornada tem início no mapeamento técnico dos fornecedores e bens de consumo críticos e no desenvolvimento de metodologias de mensuração de reduções na cadeia – como de programas de insetting, sem perder de vista o objetivo estratégico.  

A solução completa é composta por quatro eixos facilitadores para a construção de uma narrativa comum, onde empresa, fornecedores e diversos stakeholders possam atuar em colaboração radical, a fim de aumentar a confiabilidade e rastreabilidade dos dados e fomentar oportunidades para descarbonização da cadeia. Apoia a regionalização, por meio do fortalecimento de iniciativas inovadoras e o advocacy a soluções estruturais, bem como o acompanhamento contínuo do progresso visando alcançar mudanças profundas e sistêmicas.  

Referências  

Climate Watch Historical GHG Emissions (1990-2020). 2023. Washington, DC: World Resources Institute. Available online at: https://www.climatewatchdata.org/ghg-emissions 

Ecoinvent, Allocation, cut-off by classification, ecoinvent database version 3.9 (2022) 

EPE (2022), Anuário Estatístico, https://dashboard.epe.gov.br/apps/anuario-livro/ 

GHG Protocol (2011). Corporate Value Chain (Scope 3) Standard, https://ghgprotocol.org/corporate-value-chain-scope-3-standard 

GHG Protocol (2004). Corporate Standard https://ghgprotocol.org/corporate-standard, https://ghgprotocol.org/corporate-value-chain-scope-3-standard 

IEA (2022), Electrification, IEA, Paris https://www.iea.org/reports/electrification, License: CC BY 4.0 

World Bank (2014), Electric power consumption (kWh per capita). Washington, DC https://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.ELEC.KH.PC 

 

 

Luisa Gonzaga
Analista de Sustentabilidade at WayCarbon | + posts
Caroline Botta
Coordenadora de Sustentabilidade at WayCarbon | + posts
Julia Rymer
Gerente de Mitigação at WayCarbon | + posts
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